24 março 2013

Espaço do Leitor no #JAD


Eu queria dizer que te amo.

É claro que eu ainda me lembro de quando você foi embora. Sua boca estava meio roxa de açaí do nosso último encontro , mas apesar da multidão ao nosso redor, eu só conseguia ouvir você. De repente, aqueles 11 meses se transformaram em um segundo, mas no pior segundo. Você me abraçou tão forte e eu senti o cheiro daquele seu creme de cabelo pela última vez. Você deu meia volta e eu fiquei observando aquela sua saia rosa, a sua favorita, abrindo espaço entre a multidão de cinco da tarde. Foi a última vez que eu te vi. Até agora.

"E como você tá ?" 

Você sorriu pra mim com as bochechas vermelhas, daquele jeito que faz quando está com vergonha. Tinham me falado que você agora era importante, queriam publicar seus textos em um revista grande. Mas, pra mim, você ainda parecia aquela garota do interior que trocava conversa até com o pipoqueiro da praça e que tinha vergonha de passar maquiagem de dia.

"Bem, né. Cê sabe como é difícil estudar e trabalhar ao mesmo tempo." 

Eu respondi, arrancando uma folha da árvore só para ter com o que ocupar minhas mãos. Você fazia isso o tempo todo, sem querer, eu fui pegando as suas manias. Você transformava copinhos de plástico em aranhas imaginárias, em um minuto. Aí eu segurava suas mãos entre as minhas, e você não precisava destruir mais nada.

"É. Você ainda trabalha com as crianças?" 



Infelizmente, eu tive vontade de dizer. Eu queria tanto ter parado, pra não precisar ficar me lembrando daquele seu jeito histérico quando me encontrava no corredor e vinha me contar o que tinha acontecido no último livro que você leu. O que você está lendo agora ? Será que aqueles caras da redação dessa tal revista discutem com você sobre seus livros ? Durante semanas eu fiquei me perguntando se você já tinha usado o nome de um deles para alguns de seus personagens, como você fez comigo. 

" Trabalho. Elas me perguntaram de você. "

 Eu achei que você fosse chorar. Seus olhos ficaram  maiores e seu rosto se transformou naquela mesma expressão de quando você recebeu a notícia de que não tinha passado no vestibular. Naquela época eu te envolvi nos meus braços enquanto você soluçava desesperada. Mas o seu choro se tranformou em sorriso, na hora. Uffa, eu não queria te fazer chorar.

" Diz pra elas que eu to bem ? Que eu mandei oi ? " 

Você não quer passar lá comigo ? Não quer dizer Oi pessoalmente ? Depois a gente pode passar na sorveteria da frente, e eu vou rir do seu gosto por sorvete de pistache e você pelo meu de uvas passas. Eu senti tanta falta de quando a gente se encontrava sem querer nos corredores e você piscava pra mim. Exatamente como fazem os cumplices. E como eramos cumplices. Ou a gente pode ficar na biblioteca estudando. Pra que eu possa levantar a cabeça dos meus livros e observar por um minuto a sua careta de concentração. 

"Claro" 

Foi só o que eu disse. Como riram de mim quando você foi embora. Que eu era froxo por ficar chorando pela sua ausência. Eu confesso que te procurei em tantas outras. Mas nenhuma delas tinha aquela sua criatividade para inventar desculpas pros outros. Nem a sua vontade de encontrar sempre os amigos.  Nenhuma delas cozinhava, nem discutia sobre o governo, nem filosofava como você fazia.           

Aí você só balançou a cabeça e me desejou um bom dia. E sorriu. Você sempre sorria. Eu não corri atrás de você como eu queria. Já fazia tanto tempo, eu nem sabia mais se valia a pena, eramos diferentes demais um pro outro. Então você continuou o seu caminho e eu te ouvi atender ao telefone. Tudo voltaria ao normal. 


Amanda Torres
Minas Gerais

Quer ver seu texto aqui no #JAD também, saiba como em Espaço do Leitor.

10 comentários:

  1. Que lindo!! *-*
    Beijos, Aline
    http://24diasdeprimavera.wordpress.com

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  2. Muito bom o texto...é meio complicado quando encontramos pessoas que mexem conosco, né? Nahim, amei a escrita da Amanda. Flor, eu já fiz resenha dos livros que mostrei na caixinha!^^ Só conferir lá na página Resenhas do blog.
    Beijos!
    Paloma Viricio- Jornalismo na Alma.

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  3. Que lindo, não importa o tempo que não vemos uma pessoa quando vemos novamente sempre lembramos de todos os momentos como se fossem ontem.
    beijos

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  4. owwwn *---* voce e uma fofa julie, muito obrigada por ter postado aqui.
    beijos
    barradosno-baile.blogspot.com

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  5. Opaa! Fico feliz que tenha curtido a resenha, o livro é muito bom mesmo!^^
    Beijos!
    Paloma Viricio- Jornalismo na Alma.

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  6. Que lindo adorei, não tenho textos, por isso não participo da tag :(
    Beijos da Tacha.
    http://sg-stylishgirl.blogspot.com.br/

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  7. Adorei, ela escreve super bem. Quando reencontramos alguém, reencontramos também todas lembranças.

    http://iasmincruz.blogspot.com.br/

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  8. Ai achei tão lindo, muito mesmo :) s2hay.blogspot.com

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  9. nossa! Que lindo o texto! Muito bonito mesmo!!!
    seguindo aqui.

    www.meninaperdida.com/

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  10. Existem lembranças, recordações e nostalgias que tempo nenhum apagam, não é mesmo?
    Lindo o texto, me fez relembrar momento especiais...

    Um beijo,
    e uma linda semana!
    Jhosy

    http://meninamsicaeflor.blogspot.com.br

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